Anúncios comemorativos do dia 10 de Julho de 2003, falando dum "regresso do islão à Espanha", marcaram a finalização da nova mesquita de Granada. (1) Infelizmente, e numa conferência com o título de "O islão na Europa" que acompanhou a abertura da mesquita, foram feitas algumas declarações alarmantes por parte dos líderes muçulmanos Europeus.
Embora o editorialista do Wall Street Journal tenha repreendido as autoridades Espanholas pela sua aparente falta de "...influência ou conhecimento em relação à direcção da nova mesquita", o autor do op-ed prosseguiu, minando a base factual das suas preocupações com uma sinopse romantizada e não-histórica da Espanha muçulmana, salientando o quele deu o nome de “humanismo pan-confessional” do islão Andalusiano, chegando até a afirmar que, “ …pode-se até alegar que a frequentemente lamentada "reforma" do islão estava a caminho até que ela foi abortada pela Inquisição” (3).
Na sua hagiografia de 2002 da Espanha muçulmana com o nome de “The Ornament of the World” (4), María Rosa Menocal, Professora de Espanhol e de Português em Yale, alegou:
Eu mantenho que reiterar estas alegações exageradas e historicamente erradas em relação à Espanha muçulmana ajuda a actual agenda islamita, e atrasa a evolução dum "Euro-Islão" liberal, reformado e totalmente compatível com os valores Europeus pós-Iluminismo.
As conquistas jihadistas foram levadas a cabo século após século, desde o subcontinente atè a Península Ibérica, porque a jihad, que significa "lutar nos caminhos de Alá", incorpora uma ideologia e uma jurisdição. O padrão básico da guerra jihadista encontra-se claramente revelado no registo do grande historiador muçulmano al-Tabari das recomendações dadas por Umar b. al-Khattab ao comandante das tropas enviadas a al-Basrah (636 AD), durante a conquista do Iraque. Umar (o segundo “Califa Correctamente Orientado”) alegadamente disse:
(por exemplo, A jihad foi formalmente concebida pelos jurisconsultos e teólogos muçulmanos desde o século 8º ao século 9º tendo como base a sua interpretação de versos do Alcorão (6) (por exemplo, 9:5,6; 9:29; 4:76-79; 2: 214-15; 8:39-42), e tendo também por base longos capítulos das Tradições (i.e., “hadith”, actos e ditados de Maomé, especialmente aqueles registados por al-Bukhari [d. 869] (7) e Muslim [d. 874] (8)).
Em relação à natureza da jihad, o consenso entre as 4 escolas de jurisprudência islâmica (isto é, Maliki, Hanbali, Hanafi, e Shafi’i) é claro. Ibn Khaldun (morreu em 1406), jurista, filósofo renomeado, historiador, e sociólogo, resumiu estas opiniões consensuais em relação à instituição unicamente islâmica da jihad tendo como base os cinco séculos prévios de jurisprudência:
A Espanha muçulmana era um país em constante estado de jihad quando se encontrava sob a jurisdição Maliki visto que esta disponibilizava uma interpretação severa e repressiva da lei islâmica (10). Por exemplo, o jurista Maliki com o nome de Ibn Abi Zayd al-Qayrawani (d. 996), caracterizou a jihad da seguinte forma:
E o jurista Maliki Ibn Abdun disponibilizou estas opiniões reveladoras em relação aos Judeus e aos Cristãos que viviam em Sevilha por volta de 1100 Era Cristã:
Os Cristãos e Judeus indígenos de Espanha, conquistados através das guerras jihadistas dos Arabes muçulmanos, foram submetidos ao domínio islâmico sob um "Pacto" - ou "Dhimma" - que impunha regulamentos degradantes e discriminadores, mas consistentes com prescrição alcorânica presente em 9:29. Os princípios centrais desta “dhimmitude” eram:
(i) A desigualdade de direitos (em todos os domínios) entre os muçulmanos e is dhimmis;E havia consequências terríveis para os dhimmis infiéis da Espanha muçulmana que se revoltassem contra a opressora Dhimma: matança dos rebeldes, e escravatura para as suas mulheres e crianças. (14)
(ii) Discriminação social e económica contra os dhimmis;
(iii) Humilhação e vulnerabilização dos dhimmis. (13)
Para além da pequena minoria de Cristãos privilegiados e notáveis, a Espanha muçulmana estava populada por dezenas de milhares de Cristãos escravos, e Cristãos humilhados e oprimidos. Os muwallads (neo-convertidos) estavam num estado perpétuo de revolta contra os imigrantes Árabes que haviam tomado para si grandes espaços latifúndios, cultivados por servos ou escravos Cristãos.
As expropriações e as extorsões fiscais deram início a chamas de rebelião permanentes por parte dos muwallads e dos mozarabs (dhimmis Cristãos) por toda a península Ibéria. Os líderes destas rebeliões eram crucificados, e os seguidores insurgentes eram mortos à espada. Estes conflictos sangrentos, que ocorreram por todo o emirato Hispânico-Umayyad até aos 10º século, um endémico ódio religioso.
No ano de 828 da Era Cristã. uma carta de Louis o Pio para os Cristãos de Mérida resumiu o seu sofrimento sob Abd al-Rahman II, e durante os reinados que se seguiram: confisco da sua propriedade, aumento injusto do seu tributo, remoção da sua liberdade (o que provavelmente significava escravatura), e opressão através de impostos excessivos. (15)
Em Granada, os vizires Judeus Samuel Ibn Naghrela, e o seu filho Joseph, que haviam protegido uma outrora florescente comunidade Judaica, foram ambos assassinados entre 1056 to 1066, a que se seguiu uma aniquilação da população Judaica por parte da comunidade muçulmana local. Pelo menos 3,000 Judeus morreram só no levantamento que se seguiu ao assassinato de 1066. (16).
Os Almoádas muçulmanos Berberes na Espanha e no Norte de África (1130-1232) causaram uma destruição enorme tanto nas populações Judaicas como na Cristã. Este processo de devastação, massacre, cativeiro e conversão forçada foi descrito pelo cronista Judeu Abraham Ibn Daud, e pelo poeta Abraham Ibn Ezra. Desconfiados da sinceridade dos convertidos Judeus para o islão, os "inquisidores" muçulmanos (isto é, antecedendo os inquisidores ristãos Espanhóis em três séculos) removeram as crianças de tais famílias, e colocaram-nas sob os cuidados educadores muçulmanos. (17)
Maimonides, o conhecido filósofo e médico, sofreu as perseguições levadas a cabo pelos Almoádas, e em 1148 teve que fugir de Córdoba com toda a sua família, vivendo temporariamente em Fez - disfaraçado de muçulmano - antes de encontrar asilo no Egipto Fatimida. De facto, embora Maimonides seja frequentemente referenciado como um exemplo de sucesso Judaico facilitado pela domínio muçulmano da Espanha, as suas próprias palavras refutam este mito utópico do tratamento que os muçulmanos deram aos Judeus:
Bernard Lewis, eminente historiador do islão, observou há 35 anos que os Judeus "Pro-islâmicos" do século 19 haviam promovido uma visão utópica da natureza igualitária do domínio islâmico, especialmente na Espanha islâmica. Sem surpresa alguma, os muçulmanos eventualmente aperceberam-se deste romântico mito Judaico em relação ao islão, e ela passou a fazer parte integral da sua imagem própria. No entanto, Lewis conclui:
Uma descrição acertada do relacionamento inter-confessional na Espanha muçulmana, e ds correntes contemporâneas responsáveis pela distorção da história, pode ser encontrada no envolvente livro de Richard Fletcher com o nome de “Moorish Spain”, onde ele disponibiliza estas observações inatacáveis:
Tolerância? Perguntem as Judeus de Granada que foram massacrados em 1066, ou aos Cristãos que foram deportados pelos Almorávidas para Marrocos em 1126 (tal como os Mouriscos cinco séculos mais tarde)..
Na segunda metade do século 20 um novo agente de obfuscação faz a sua aparência: a culpa da consciência liberal, que vê os males do colonialismo - assumidos mais do que demonstrados - prenunciados na conquista Cristã de al-Andalus e na perseguição dos Mouricos (mas não, curiosamente, na conquista e colonização mourisca).
Agitem bem a mistura, e emitam-no de maneira livre a académicos crédulos e pessoas mediáticas por todo o mundo ocidental. Depois disso, derramem-no de maneira generosa sobre a verdade....Dentro das condições culturais que existem no Ocidente de hoje, o passado tem que ser comercializado e para ser comercializado de maneira bem sucedida, ele tem que ser empacotado de maneira atraente.
A Espanha num estado natural não tem apelo geral. Fantasias auto-indulgente de glamour....fazem milagres na melhoria dessa imagem. Mas a Espanha Mourisca não era uma sociedade tolerante e ilminade, nem mesmo nas suas épocas mais cultas. (20)
Por fim, mesmo que seja classificada de "tolerante" segundo padrões medievais, a dhimmitude é totalmente incompatível com as noções modernas de igualdade entre os indivíduos, independentemente da fé religiosa. Agora que estamos no início do século 21, temos que insistir que os muçulmanos do Ocidente adoptem padrões sociais pós-Iluministas de igualdade, e não de "tolerância", abandonado de vez a hagiografia dos padrões repressivos e discriminatórios practicados pelos clássicos juristas Maliki dda "iluminada" Espanha muçulmana.
- http://bit.ly/1H1Mn5J
* * * * * * *
Embora o texto do Dr Bostom esteja essencialmente correcto, convém ressalvar que os mesmos Judeus que criaram o mito da "Espanha tolerante", traindo deste forma os muitos Judeus que foram chacinados pelos "tolerantes" muçulmanos da Ibéria, operaram dentro da filosofia iluminista que o Bostom quer que os muçulmanos adoptem.
Para se saber qual é a ideologia a adoptar para se combater o avanço muçulmano na Europa, basta saber qual era a ideologia de Jan Sobieski, Carlos Martel, e dos cavaleiros de combateram os maometanos em Lepanto.
Notas:
1. http://news.bbc.co.uk/1/hi/world/europe/3055377.stm “Mosque signals Muslims return to Spain” BBC July 10, 2003.
2. http://news.bbc.co.uk/1/hi/world/europe/3061833.stm “Muslim call to thwart capitalism” BBC July 12, 2003.
3. http://www.opinionjournal.com/taste/?id=110003764 Melik Keylan. “Back again after 500 years” Opinion Journal July 18, 2003
4. Gloria Rosa Menocal, “The Ornament of the World” (Boston: Little Brown and Company, 2002. p. 28)
5. Al-Tabari, “The History of al-Tabari (Ta’rikh al rusul wa’l-muluk)”, vol. 12, The Battle of Qadissiyah and the Conquest of Syria and Palestine, translated by Yohanan Friedman, (Albany, NY.: State University of New York Press, 1992).
6. The Noble Qur’an http://www.usc.edu/dept/MSA/quran/
7. Translation of Sahih Bukhari http://www.usc.edu/dept/MSA/fundamentals/hadithsunnah/bukhari/
8. Translation of Sahih Muslim: http://www.usc.edu/dept/MSA/fundamentals/hadithsunnah/muslim/
9. Ibn Khaldun, “The Muqudimmah. An Introduction to History”, Translated by Franz Rosenthal. (New York, NY.: Pantheon, 1958, vol. 1, p. 473).
10 Evariste Levi-Provencal. “Histoire De L’Espagne Musulmane” Vol. 3 (Paris G-P Maisonneuve, 1953, Pp. 131-33; 470-76); Bat Ye’or. “Islam and Dhimmitude: Where Civilizations Collide” Translated by Miriam Kochan and David Littman, (Cranbury, NJ.: Associated University Presses, 2001, Pp. 62-63).
11. Ibn Abi Zayd al-Qayrawani, La Risala (Epitre sur les elements du dogme et de la loi de l'Islam selon le rite malikite.) Translated from Arabic by Leon Bercher. 5th ed. Algiers, 1960, p. 165.
12. Evariste Levi-Provencal. “Seville musulmane au debut du 12e siecle” (Traite sur la vie urbaine et les coprs de métiers d’Ibn Abdun). In “Islam d’hier et diaujourd’hui.” (Vol. 2 Paris, 1947, p. 114)
13. Bat Ye’or, “The Dhimmi: Jews and Christians Under Islam”, Translated by David Maisel, Paul Fenton, and David Littman. (Cranbury, NJ.: Associated University Presses, 1985, Pp.51-77).
14. Richard Fletcher. “Moorish Spain” (Berkeley, CA: University of California Press, 1992, Pp. 44-49; 120-21); Bat Ye’or. “Islam and Dhimmitude”, Pp. 62-63;
15. Evariste Levi-Provencal. “Histoire De L’Espagne Musulmane” Vol. 1 (Paris: G-P Maisonneuve, 1950; for Letter, see p. 228)
16. Moshe Perlmann. “Eleventh Century Andalusian Authors on the Jews of Granada”, Proceedings of the American Academy of Jewish Research, Vol. 18 (1949), Pp. 269-70.
17. H. Z. Hirschberg. “A History of the Jews of North Africa” (Leiden: E.J. Brill, 1974, Vol. 1. Pp. 123-139).
18. Bat Ye’or, “The Dhimmi” Documents III- Aspects of the dhimmis existence as experienced, #94, Forced conversions and degradation (12th century), p. 351.
19. Bernard Lewis. "The Pro-Islamic Jews," Judaism, (Fall 1968), p. 401.