Andando pelas vizinhanças predominantemente Cristãs da cidade de Aleppo
- Azizieh, Siryan, Sulaimaniyah e Midan - ainda se podem ver os
cartazes dos dois bispos, raptados pelos militantes islâmicos no ano
passado, pendurados sobre as janelas das lojas, sobre as paredes e até
nos carros. As pessoas por aqui não os esqueceram visto que o evento
ainda se encontra bem fresco e bem doloroso tal como se ele tivesse
ocorrido ontem. O rapto dos bispos foi um evento simbólico, indicado o
colapso generalizado das relações comunitárias inter-religiosas num
países sob o reino duma guerra civil sectária, e marcou o fim duma
longa era de paz e de segurança relativas para os Cristãos da Síria.
As próprias ruas exibem um tipo de "normalidade" enganadora e surreal, o tipo de "normalidade" onde edifícios esburacados, ruas com buracos, carros destruídos, e até calçadas manchadas de sangue são visões normais e esperadas à medida que as pessoas seguem a sua vida normal sem olhar duas vezes. Esta é a vida actual, e esta é a realidade aqui. Como as coisas eram antes da guerra é irrelevante, as memórias daqueles lindos e distantes dias não importam e nem são mais levados em consideração.
O medo é palpável na cidade; ele paira de modo pesado no ar e um pouco por todo os sítios onde se vai, semelhante a um potente e enjoativo perfume. Ainda é possivel ver o medo no olhar das pessoas, nas linhas profundas das suas faces; pode-se ouvir o medo através da forma como andam e nas suas conversas; só se fala nisso.
Mas um novo tipo de medo permeia esta antiga e profundamente enraizada comunidade. O genocídio e a limpeza étnica são ameaças reais que assombram a consciência colectiva dos Cristãos da Síria. O destino terrível que se abateu sobre os seus co-religionistas do outro lado da fronteira em Mosul fez com que esta realidade fosse assimilada duma forma brutal e assustadora. A genocida e niilista seita da morte conhecida como "Estado Islâmico" está determinada em destruir tudo o que não seja igual a ela, e tem estado envolvida numa violência imparável que deixou para trás um trilho de corpos decapitados e valas comuns, normalmente corpos de minorias étnicas e religiosas.
Os militantes não escondem as suas campanhas genocidas compostas por matanças em massa e violência medieval; pelo contrário, para além de se divertirem com elas, eles celebram-nas abertamente e com alegria. Para eles, a violência não é um meio para um fim, mas o próprio fim.
Yousef é um lojista na vizinhança predominantemente Cristã de
Sulaimaniyah, que testemunhou bombardeamentos constantes por parte dos
rebeldes desde que a guerra civil dividiu o país em Julho de 2012. O
seu irmão serve no exército Sírio em Damasco. Durante uma conversa, ele
falou-me das questões e ansiedades predominantes que estão a atravessar
a sua comunidade:
As próprias ruas exibem um tipo de "normalidade" enganadora e surreal, o tipo de "normalidade" onde edifícios esburacados, ruas com buracos, carros destruídos, e até calçadas manchadas de sangue são visões normais e esperadas à medida que as pessoas seguem a sua vida normal sem olhar duas vezes. Esta é a vida actual, e esta é a realidade aqui. Como as coisas eram antes da guerra é irrelevante, as memórias daqueles lindos e distantes dias não importam e nem são mais levados em consideração.
O medo é palpável na cidade; ele paira de modo pesado no ar e um pouco por todo os sítios onde se vai, semelhante a um potente e enjoativo perfume. Ainda é possivel ver o medo no olhar das pessoas, nas linhas profundas das suas faces; pode-se ouvir o medo através da forma como andam e nas suas conversas; só se fala nisso.
Mas um novo tipo de medo permeia esta antiga e profundamente enraizada comunidade. O genocídio e a limpeza étnica são ameaças reais que assombram a consciência colectiva dos Cristãos da Síria. O destino terrível que se abateu sobre os seus co-religionistas do outro lado da fronteira em Mosul fez com que esta realidade fosse assimilada duma forma brutal e assustadora. A genocida e niilista seita da morte conhecida como "Estado Islâmico" está determinada em destruir tudo o que não seja igual a ela, e tem estado envolvida numa violência imparável que deixou para trás um trilho de corpos decapitados e valas comuns, normalmente corpos de minorias étnicas e religiosas.
Os militantes não escondem as suas campanhas genocidas compostas por matanças em massa e violência medieval; pelo contrário, para além de se divertirem com elas, eles celebram-nas abertamente e com alegria. Para eles, a violência não é um meio para um fim, mas o próprio fim.
Porque é que os muçulmanos moderados não fazem mais para parar os extremistas que se encontram no meio deles?
Será que eles concordam com a sua ideologia e com o seu extremismo?
Vimos centenas de milhares de protestantes nas ruas manifestando-se
contra os abusos do regime, portanto, porque é que não estamos a ver
milhares de protestantes contra o que o EIIL tem vindo a fazer?
Pior, temos visto actualmente muitas pessoas e grupos rebeldes a
juntarem-se a eles. Existem muitas centenas destes grupos rebeldes, mas
eles são todos iguais, todos eles têm esta ideologia extremista contra
nós. A minha conclusão é que estes grupos e o EIIL têm o apoio das
forças anti-governamentais para o que estão a fazer.
Os Cristãos da Síria tentaram, no seu todo, ficar de parte desta furiosa guerra civil mas frequentemente vêem-se envolvidos na confusão e nestes eventos sangrentos. Em mais do que uma ocasião, os Cristãos tornaram-se no ponto central da acção, tal como em Maaloula, Yabrud e Kassab, bem como em raptos altamente publicitados de freiras e sacerdotes.
Mas as vozes começam a questionar se eles devem continuar na sua neutralidade durante este conflito, que eles olham como um que se modificou para se tornar num conflito que os tem como alvo, e que está a ameaçar a sua comunidade com a aniquilação. Muitos acreditam que pegar em armas, pelo menos para auto-defesa, é uma escolha sábia, mas outros sentem que isto iria irritar e inflamar ainda mais os seus inimigos, fazendo com que eles venham a levar a cabo actos criminosos ainda mais horrendos.
Tal como muitos habitantes do Oeste de Aleppo, também alguns Cristãos tiveram que fugir à violência que rasgou a sua cidade; muitos nunca mais irão regressar. Mas ao contrário do êxodo em massa dos Cristãos em outros lugares, de modo geral, os Cristãos de Aleppo ficaram na sua cidade, sugerindo que a comunidade Cristã de Aleppo permanece ainda conectada com a sua casa ancestral, e são uma parte integral do diverso mosaico social, étnico e cultural da cidade.
Mas o medo duma limpeza étnica tal como aquela que está a ser observada no Iraque ainda causa medo. George, mecânico e dono duma garagem em Sulaimaniyah, afirmou:
Os
Cristãos de Aleppo não irão ficar se o regime perder o controle da
cidade. A sua estadia aqui será finalizada. Talvez para sempre. Os
jihadis takfiri assegurar-se-ão disso. O seu plano é o de limpar a
nação de pessoas não-sunitas. Por enquanto, eles estão a usar tácticas
de medo e propaganda para intimidar as pessoas de modo a que elas
abandonem a cidade antes deles chegarem; é assim tão fácil. É por isso
que eles levam a cabo esses crimes macabros perante as câmaras, para
vencer sem que tenham que disparar uma única bala. E quando eles
invadem novas áreas, eles queimam as nossas igrejas e confiscam as
nossas casas e os nossos negócios. Eles querem apagar todos os traços
da nossa presença nas nossas terras. Que tipo de mensagem estão eles a
emitir? Porque é que alguém haveria de querer juntar-se a tua religião
sob ameaça?
George acusa o Ocidente de ser cúmplice da remoção de Cristãos do Médio Oriente:
Porque
é que os Estados Unidos não levaram a cabo acções militares quando o
EIIL perseguiu os Cristãos em Raqqa e Mosul? Porque é que só agora,
quando são os Yazidis a serem atacados, é que eles levaram a cabo uma
acção militar? Existe um plano de remoção de todos os Cristãos do Médio
Oriente. É uma coisa de doidos. O Ocidente tem os mesmos planos que os terroristas têm para nós!
E isto é claro: actualmente a França está a aceitar os refugiados
Cristãos provenientes do Iraque, mas no Mali, a França enviou um
exército para derrotar os terroristas. Será que eles são terroristas no
Iraque e no Mali, mas revolucionários na Síria?
Muitos do argumentos que Yousef e George abordaram foram ecoados por toda a comunidade Cristã em Aleppo, indicando a sua partilhada situação e ansiedade, independentemente da sua afiliação política. Nem todos os Cristão de Aleppo apoiam o regime; de facto, uma larga percentagem deles não apoia, mas igualmente significante é que não se encontrará Cristão algum que dê o seu apoio aos rebeldes.
O bombardeamento recente e repetido da Igreja Católica Siríaca, um edifício enorme e icónico bem no centro da antiga comunidade Cristã de Azizeh, é visto por muitos como uma mensagem clara por parte dos rebeldes, revelando as suas verdadeiras intenções em relação à comunidade Cristã. Yousef afirma:
Já
não há mais necessidade de manter a pretensão de libertação e
liberdade. Eles [os rebeldes] foram bem sucedidos em vender essa imagem
para o mundo exterior ao mesmo tempo que levavam a cabo as suas
verdadeiras intenções na Síria em plena luz do dia.
Fonte: http://bit.ly/1l3930L
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