MITOS ISLÂMICOS

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

Os mitos sobre al-Andalus

Por: Eduard Yitzhak*

Grande parte da esquerda e os islamitas repetem o mito da tolerância do Islão na época do al-Andalus

Continuamente se repete que: "Al-Andalus foi uma civilização que irradiou uma personalidade própria tanto no Ocidente como no Oriente. Situada na terra dos encontros, dos cruzamentos culturais e fecundas mestiçagens, al-Andalus foi esquecida, depois de seu esplendor, tanto pela Europa como pelo universo muçulmano, como uma bela lenda que não pertencera a nenhum dos dois mundos".

A península ibérica foi submetida pela espada ao islão, foi al-Andalus, terra dos vândalos, em árabe.
Durante a segunda metade do século VIII produziu-se uma séria cisão no império muçulmano. Uma ruptura dinástica que acabou com os omíadas que governavam em Damasco, para entronizar os abássidas, que se assentaram em Bagdad. Um príncipe omíada fugido de Damasco, Abderrahman I, penetraria en al-Andalus formando um novo Estado com base em Córdoba: o emirado, independente da política bagdali.

Oito emires se sucederam de 756 a 929, com diversos insurreições maometanas e moçárabes (cristãos ibéricos vivendo sob a dominação muçulmana e  de seus descendentes) – até que Abderrahman III decidiu fundar um califado, declarando-se Emir al-Muminin (príncipe dos crentes), o qual lhe outorgava, além do poder terreno, o poder espiritual sobre a umma (comunidade de crentes).

Abderrahman III e seu sucessor al-Hakam II, apaziguaram a população, permitiram a colaboração em seus domínios de judeus e cristãos. Fizeram acordos com os cristãos, construíram e ampliaram numerosos edifícios – alguns notáveis como a Mesquita de Córdoba – e se rodearam da inteligência de sua época. Mantiveram contactos comerciais com Bagdad, França, Tunis, Marrocos, Bizâncio, Itália, e Alemanha.

Enquanto isso, no final do século XI, no Magreb ocidental, hoje Marrocos, surgiu um novo movimento político e religioso no seio de uma tribo bérbere do sul, os lamtuna, que fundaram a dinastia almorávida. Em pouco tempo, sua atitude religiosa fundamentalista, fanática e intransigente "convenceu grande parte da desencantada população, e com o seu apoio empreenderam uma série de contendas logrando formar um império que abarcaria parte do norte da África e al-Andalus que, através do rei sevilhano al-Mutamid, tinha pedido sua ajuda para frear o avanço cristão.

Liderados Ibn Tashfin, penetraram os almorávidas na Península, infligindo uma séria derrota às tropas de Alfonso VI em Sagrajas. Logo conseguiriam acabar com os reis dos emirados e governar al-Andalus, não sem certa oposição da população, que se rebelava contra seu modo intransigente e fundamentalista.

Os cristãos obtiveram durante isso importantes avanços, conquistando Alfonso I de Aragão, Zaragoça em 1118. Ao mesmo tempo, os almorávidas viam ameaçada sua  própria supremacia por um novo movimento religioso surgido no Magreb: o almoáda. Esta nova dinastia foi gerada no meio de uma tribo bérbere procedente do coração do Atlas que, chefiada pelo guerreiro Ibn Tumart, logo se organizou para derrocar os seus predecessores. Também a partir de Marraquech, governaram e se fizeram com as rendas de al-Andalus. Entretanto, da mesma forma que os almorávidas, terminaram por sucumbir ante o relaxamento do islão que tinham os fiéis muçulmanos.

O islão floresceu intelectualmente em al-Andalus quando se relaxou e rompeu com a umma governada a partir de Bagdá, e com o islão oficial e imperante. Abderrahman III e Hakam II possuíam o poder terreno e espiritual da umma em terras ibéricas. Foram uns "traidores" do espírito do islão. A umma não pode ser fracionada segundo as leis corânicas.

É a época do esplendor de al-Andalus. Ainda que permitissem aos judeus e cristãos colaborar em seus domínios muçulmanos, eram dhimmis, cidadãos de segunda classe, porém melhor tratados que os anteriores e posteriores emires.

Os que recorrem ao mito da tolerância em al-Andalus, omitem voluntariamente ou por ignorância, que quando houve — relativamente — mais tolerância foi na época do maior relaxamento e distância do islão, e que a maior reislamização, com os almorávidas e com os almoádas, maior era a intolerância e perseguição de judeus e cristãos e de heterodoxos muçulmanos. Quando em al-Andalus os muçulmanos se distanciavam do islão podia florescer a cultura. Mas de onde provinha essa cultura?

Os árabes se expandiram a partir da península de Arábia, no século VII, impelidos pelo islão. Eram beduínos sem acervo cultural importante, mas com o islão, cópia do judaísmo e do cristianismo nestoriano1, acreditavam num só D-us, incitados por Maomé a impor seu credo, e ante a negativa dos judeus a seguir-lhes os fazia degolar. Foi o início de sua Jihad contra "os outros". Maomé mesmo sancionou o massacre de Qurayza, uma tribo judaica derrotada no século VII. Designou um "árbitro" que logo rendeu este julgamento conciso: os homens deviam ser submetidos à morte, as mulheres e as crianças vendidas como escravos e o botim dividido entre os muçulmanos. 

Maomé ratificou este juízo, indicando que era um decreto divino pronunciado do alto dos Sete Céus. Assim, entre 600 e 900 homens de Qurayza foram conduzidos por ordem de Maomé ao Mercado de Medina. As fundações caíram, os homens foram decapitados e os cadáveres enterrados nas valas, enquanto Maomé presenciava. As mulheres e as crianças foram vendidas como escravos e várias delas foram distribuídas como presentes entre os aparentados a Maomé, que escolheu uma das mulheres de Qurayza (Rayhana) para ele próprio. As propriedades dos Qurayza e outras possessões (incluindo as armas) também foram divididas como botim adicional entre os muçulmanos, para sustentar as campanhas adicionais da Jihad.

Al-Mawardi, jurista de Bagdá, era um erudito prolífico que viveu durante a chamada Idade Dourada islâmica do califado Abbássida de Bagdá e faleceu em 1058. Escreveu a seguinte citação, baseando-se em interpretações extensamente aceitas do Corão e Sunna (ou seja, as palavras e o atos registrados de Maomé), com respeito aos capturados infiéis de campanhas da Jihad:

 "Quanto aos captivos, o emir [governante] tem a escolha de tomar a ação mais beneficente de quatro possibilidades: a primeira, condená-los à morte cortando-lhes os pescoços; a segunda, escravizá-los e aplicar as leis da escravidão com respeito à venda e a libertação; a terceira, lista de bens ou presos; e quarta, mostrar-lhes favor e perdoá-los. Alá, que seja venerado, diz, ‘Quando você se encontrar com aqueles (infiéis) que negam (a Verdade = islão) então corta-lhes os pescoços (Corão, sura 47, verso 4)"....Abu'l-Hasan al-Mawardi, al-Ahkam as-Sultaniyyah." (As Leis do
Governo Islâmico, traduzidas pelo doutor Asadullah Yate, (Londres), Ta-Ha Editores Ltd., 1996, p. 192)

A "sagrada" prática muçulmana da decapitação do infiel se baseia nas "regras" corânicas reiteradas por todas as quatro escolas clássicas de jurisprudência islâmica, através do vasto império muçulmano. Por séculos, da península ibérica até o subcontinente hindu, as campanhas da Jihad empreendidas pelos exércitos muçulmanos contra os infiéis — judeus, cristãos, zoroastristas, budistas e hindus — foram marcadas por massacres, com decapitações em massa. Durante o período do domínio muçulmano "iluminado", os cristãos da Toledo ibérica, que inicialmente submeteram os seus invasores muçulmanos árabes em 711 ou 712, depois se rebelaram em 713. Na dura represália muçulmana que resultou, Toledo foi saqueada e todos os cristãos proeminentes foram degolados.

As decapitações recentes de infiéis por muçulmanos inspiradas pela Jihad ocorreram em todo o mundo - cristãos na Indonésia, nas Filipinas e na Nigéria; sacerdotes e mulheres hindus "descobertas" na Cachemira; o jornalista judeu do The Wall Street Journal, Daniel Pearl. Não deve surpreender-nos que estes paroxismos contemporâneos da violência da Jihad eram acompanhadas das decapitações rituais. Tais atos horríveis são, de fato, aprovados pelos textos sagrados islâmicos, e pela jurisprudência muçulmana clássica. 

As reclamações vazias — dos relativistas culturais e dos que predicam sobre alianças entre "civilizações" — que as decapitações da Jihad são de certa forma "alheias ao islão verdadeiro," são totalmente falsas, e por bem-intencionados que fossem, minavam os esforços sérios para reformar e desacralizar a doutrina islâmica.

Os guerreiros árabes entraram em contato com a cultura européia graças aos tradutores judeus cristãos nestorianos que povoavam a península da Arábia e as terras conquistadas pelos muçulmanos. Seu grande aporte à cultura e civilização foi ter traduzido os textos da filosofia e do saber grego — da Europa — ao árabe, sendo a maior parte dos tradutores judeus.

Os árabes aprenderam que com a força militar da espada do islão, com o medo que infundiam seus guerreiros e com a doutrina corânica podiam se estender amplamente.

Os mais civilizados entre eles foram suficientemente inteligentes em pedir a colaboração dos intelectuais de sua época, em grande parte judeus, que contribuíram — traduzindo — o saber dos gregos clássicos, e desenvolveram este conhecimento. Foram inumeráveis os tradutores judeus que transmitiram aos muçulmanos os tesouros da literatura científica da Grécia antiga. Formavam uma legião de matemáticos, astrônomos e médicos judeus no mundo árabe.

Entre os que se encarregavam de descobrir obras clássicas e traduzi-las ao árabe se conta uma multidão de doutores judeus e cristãos sírios. Eles contribuíram de maneira decisiva para cimentar os fundamentos para o desenvolvimento posterior no mundo do islão. Os nomes dos judeus que exerceram sua atividade nas escolas superiores árabes, e de al-Andalus — são quase incontáveis. Até o século XIX não eram conhecidos esses nomes, muitos dos quais são apenas reconhecíveis nos caracteres árabes, e valorizado sua contribuição no campo da astronomia, química, e de a matemática e da medicina, tal como ressalta Werner Keller en seu trabalho "Und wurden zerstreut unter alle Völker".

Os muçulmanos que querem um retorno às fontes do islão criticam o relaxamento de Abderrahman III, de Hakam II, o rei erudito que criou uma biblioteca de mais de 400 mil volumes, porque a partir da ruptura da umma, e da independência do califado de Bagdá, em 1031, cai a dinastia omíada, e começam a surgir reinos independentes de emirados em toda al-Andalus, e os reinos cristãos poderão expulsar da península ibérica os muçulmanos.

Os puristas do islão culpam o pensamento ocidental e o estado laico de Kemal Ataturk na Turquia como as causas de sua declinação e decadência religiosa.

Os ocidentais que "admiram" a "tolerância" que houve em al-Andalus não querem lembrar que esta tolerância foi breve e totalmente incompleta – os dhimmis judeus e cristãos eram cidadãos de segunda classe – e o pensamento que os árabes contribuíram os árabes era em grande parte devido aos judeus e o saber era de matriz européia – Grécia Antiga. O declínio político religioso, o distanciamento com o islão, permitiu o florescimento cultural, e graças a "tolerância" a colaboração de judeus e cristãos.

Actualmente qualquer esperança de que o islão se modernize é remota, possivelmente uma ilustração necessitaria de um par de séculos ou mais. Os muçulmanos estão sendo controlados cada vez mais pelos islâmicos, que admiram os almoádas que perseguiram os dois maiores filósofos de Al-Andalus, o médico judeu Maimônides e o cadji (juiz) muçulmano Averrois.

Os ventos da modernidade sopram em direcção contraria aos que se movem pela Europa árabe. Os “eurábicos” têm medo da liberdade, fazem autocensura, os jornais não publicam caricaturas do islão, mas de judeus e cristãos. As óperas de Mozart são censuradas por medo de ofender os muçulmanos, porém  não da mesma forma se se ofende judeus e cristãos. Há medo, medo da liberdade.

Notas:
1. O Nestorianismo é uma doutrina cristã, nascida no Século V, segundo a qual há em Cristo duas pessoas distintas, uma humana e outra divina, completas de tal forma que constituem dois entes independentes. A doutrina surgiu em Antióquia e manteve forte influência na Síria, e é sustentada ainda hoje pela Rosacruz e outras doutrinas ligadas à gnose. Foi proposto por Nestório, monge oriundo de Alexandria, que assumiu o bispado de Constantinopla. Ele se opôs a Cirilo, bispo de Alexandria. No Concílio de Éfeso, em 431, resolveu-se adotar como verdade de fé a doutrina proposta por Cirilo, e os nestorianos foram considerados hereges.

Os nestorianos foram desterrados do Império Romano, todavia, em algumas regiões isoladas do Oriente Próximo é ainda possível encontrá-los. Os nestorianos se propagaram pela Ásia Central, chegando até a China, e durante algum tempo influenciaram os mongóis, até a conversão destes ao lamaísmo, quando abandonaram o nestorianismo. 

Atualmente subsistem as igrejas nestorianas na Índia e no Iraque (Igreja Assíria), Irã, China e nos Estados Unidos e em outros lugares onde tenham migrado comunidades cristãs dos países citados. Os nestorianos tiveram papel fundamental na conservação de antigos textos gregos que foram traduzidos para o siríaco (um ramo do arameu). Mais tarde foram traduzidos para o árabe e no século XIII para o latim.

2. Averróis ou Abu al-Walid Muhammad Ibn Ahmad Ibn Munhammad Ibn Ruchd, filósofo árabe nasceu em Córdoba, 1126 e morreu em Marrakech, 1198. Foi um dos maiores conhecedores e comentaristas de Aristóteles. Aliás, o próprio Aristóteles foi redescoberto na Europa graças aos comentários de Averróis que muito contribuíram para a recepção do pensamento aristotélico. Averróis também se ocupou com astronomia, medicina e direito canônico muçulmano.
* Eduard Yitzhak é escritor e um dos principais colaboradores do website Es-Israel (www.es-israel.org), parceiro do jornal Visão Judaica.


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