Uma mulher acusada de espancar o próprio filho até a
morte por não conseguir decorar trechos do Corão gravou um vídeo de
confissão apresentado perante o júri durante seu julgamento na
Grã-Bretanha.
Sara Ege, de 33 anos, teria cometido o crime em Julho de 2010, e enfrenta a Justiça de Cardiff, capital do País de Gales.
Embora tenha feito confissões em julho de 2010,
poucos dias após a tragédia, registradas no vídeo e em outros
documentos, ela mudou sua versão e vem negando o crime.
Na gravação de mais de uma hora de duração, ela
diz que seu filho, Yaseen Ali Ege, caiu enquanto murmurava trechos do
livro sagrado islâmico e afirma ter pensado que ele tivesse adormecido.
Sara diz que deixou o filho onde ele estava,
sobre um tapete ao lado da cama. "Ele estava respirando como se
estivesse dormindo quando o deixei. Ele continuava sussurrando a mesma
coisa. Achei que ele só estivesse cansado".
No depoimento, ela diz ter voltado ao quarto do
filho dez minutos depois, e que o encontrou tremendo, com calafrios,
ainda no chão. E que, logo depois, ele morreu.
Surpreendentemente, ela explica no vídeo que sua
decisão imediata foi de queimar o corpo e que, para isso, foi até a
cozinha para pegar um frasco de álcool em gel usado para churrascos. O
fogo fez com que a polícia acreditasse, inicialmente, na versão de que o
menino havia morrido vítima do incêndio. A autópsia, no entanto,
revelou que Yaseen já estava morto quando o incêndio começou.
Em outro momento do julgamento, depoimentos da ré prestados em Julho
de 2010, poucos dias após a tragédia, foram lidos aos jurados, que se
mostraram estupefatos diante de algumas declarações.
Em alguns trechos, ela confessa que estava fora
do controle e que espancou seu filho sem motivos. O depoimento de uma
professora da escola que Yasseen frequentava reforçou a tese de
violência recorrente. A professora disse que, certa vez, Yaseen relatou
sentir dores na mão e, ao ser questionado sobre o motivo, disse ter
apanhado da mãe com uma régua.
A queixa foi repassada à directora da escola, que
teria chamado a mãe do garoto para uma conversa, mas o teor do encontro
não foi divulgado. Também não se sabe se a escola informou as
autoridades sobre o incidente.
A própria mãe admitiu que as surras eram
recorrentes. Ela disse, em um dos depoimentos registrados em 2010, ter
prometido a si mesma que não bateria mais na criança –algo que não
conseguiu cumprir, voltando a espancar o filho de forma sistemática.
O presentes no tribunal ficaram chocados quando um policial leu os trechos em que Sara descreve como queimou o corpo do filho.
"Na hora eu não estava pensando em nada, eu só
estava muito assustada. Era sempre assim, de novo e de novo, quando eu
batia no Yaseen com um bastão. Não era minha intenção fazer nada. Eu não
posso explicar, eu amava muito o meu filho. Ele era tão comportado, ele
nunca, nunca reclamava de nada".
Ela indicou que seus acessos de raiva foram os responsáveis pela tragédia.
"Eu culpo a minha raiva. Eu perdi o controle. Não consigo entender o que aconteceu. Não houve intenção de ferir meu filho".
Yusef Ali Ege, de 38 anos, pai do menino, também
está sendo julgado por ter causado ou permitido a morte do filho ao não
ter protegido a criança.
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