MITOS ISLÂMICOS

segunda-feira, 28 de março de 2011

O mito da “civilização islâmica”

Há dez anos atrás, a minha opinião sobre a chamada “civilização árabe” era amiúde considerada como sendo uma blasfémia. O tempo acabou por me dar razão; aliás, é sina minha: falo sempre antes do tempo próprio das ideias.

A influência do desconstrucionismo histórico-revolucionário na cultura contemporânea é de tal forma que qualquer opinião que corrobore uma evidência histórica é sumariamente ostracizada. Até mesmo personalidades marcantes da Direita, como o Prof. Hermano Saraiva, acabaram por apoiar (tacitamente) algumas ideias construídas acerca do que foi, na realidade, um império maometano, e não uma civilização.

Um exemplo do que quero dizer é este postal (em espanhol): vejam que se diz que Averróis era espanhol, quando Espanha não existia como tal e quando se sabe que o árabe Averróis nasceu na Córdova islâmica do califado dissidente do ocidente dos Almóadas (ou Umáiadas), cujo califado durou até 750, e cujo representante fugiu da Síria para a península ibérica onde fundou um califado dissidente.

A oriente, os Abássidas tomaram conta do califado (750) por pressão política dos Xiitas da Pérsia que seguiam Ali, o genro de Maomé, e mudaram a capital do califado do oriente, de Damasco para Bagdade. Dizer que Averróis era espanhol não é simples ignorância: é uma barbaridade propositada e uma aviltação da História ― faz parte da desconstrução ideológica da História que caracteriza a Esquerda.

Uma civilização pode gerar um Império, mas um Império não se constrói automaticamente a partir de uma civilização ― existiram civilizações que não se constituíram em impérios ― e existiram impérios que não foram civilizações. Misturar os dois conceitos não faz sentido. O Império mongol não foi uma civilização, e a civilização Maia não foi um Império. Subjacente à ideia de “civilização” está a criação intelectual genuína e endógena, e não o simples “comércio” de ideias.

Embora tivesse existido alguma criação intelectual endógena por parte dos árabes islâmicos, a sua quantificação não permite que possamos considerar o Império maometano como uma civilização. Eu não devo ser considerado “civilizado” quando me aproprio das ideias dos outros; os outros serão os civilizados; eu não.

A Arábia era (e é) um território desértico e incapaz de manter a sua população crescente. A hegira (a fuga de Maomé de Meca para Medina) aconteceu em 622 d.C., e com ela começou a Era Maometana. Nessa altura, o árabe era um povo semi-nómada e muito atrasado em relação aos seus vizinhos.

Depois da morte de Maomé, as conquistas militares árabes processaram-se a uma velocidade vertiginosa: a Síria foi conquistada em 634, a Pérsia foi invadida em 637, Constantinopla (a capital cristã do Império Romano do Oriente) foi cercada pelos maometanos em 669 (e de novo em 716), o Egipto foi anexado em 642, Cartago conquistada em 697, e em 711 o território da península ibérica estava anexado pelos maometanos (com a preciosa ajuda dos judeus ibéricos que se rebelaram contra os visigodos) ― com excepção de uma parte do norte de Portugal, da Galiza e das Astúrias.

Em menos de um século, os árabes maometanos construíram um Império pela força das cimitarras, que se estendia desde as fronteiras da Índia até à península ibérica, e só foram parados na batalha de Tours em 732 ― exactamente um século depois da morte de Maomé.

Dizer-se que os árabes passaram de um povo atrasado (em relação aos seus vizinhos) para um povo com civilização própria e endógena, em apenas 100 anos, é um absurdo que tem sido alimentado pelo anticristianismo primário da Esquerda. Se não fosse absolutamente irracional, a Esquerda seria capaz de defender a cultura do canibalismo da Papuásia para assim tentar justificar a “inferioridade cultural cristã”.


Já vimos que quem abriu as hostilidades históricas entre maometanos e cristãos foram os primeiros. Toda a reacção bélica europeia e cristã foi consequência da invasão e implantação exclusivista do Império maometano.

Os maometanos não eram (nem nunca foram) de facto mais tolerantes do que os cristãos; eles tinham e têm o conceito da “Jizya”, que é o tributo islâmico: todas as pessoas que professassem uma religião diferente da islâmica eram obrigadas a pagar um imposto especial (a Jyzia); se não o pagassem, essas pessoas eram decapitadas. Em tempo de guerra, a Jizya era aumentada de tal forma que reduzia os não-maometanos à penúria e à miséria, e muitas vezes à condição de escravatura ― salvo se se convertessem ao Islão. Esta era a “tolerância” islâmica.

O Império árabe era uma monarquia absoluta governada pelo califa ― sucessor de Maomé. A primeira dinastia do califado foi a dos Umáiadas que durou até 750, e os califas da primeira dinastia aceitavam Maomé mas não aceitavam o fanatismo religioso.

Os árabes, embora conquistando territórios em nome da religião, não eram uma raça muito religiosa. Com a entrada dos persas no jogo político, o fanatismo religioso acentuou-se e os Umáiadas foram substituídos pelo califado dos Abássidas.

O último califa abássida foi morto pelos mongóis em 1256, numa carnificina sem precedentes históricos que matou cerca de 1 milhão de habitantes de Bagdade e da Pérsia ― comparado com isto, as reclamadas atrocidades das cruzadas cristãs foram “peanuts”.

A cultura grega chegou aos maometanos através da Síria que tinha sido ocupada em 634 pelos exércitos islâmicos. Os sírios há muito tempo que conheciam Aristóteles, e os nestorianos (cristãos) sírios veneravam Platão. Por oposição política aos nestorianos cristãos, os árabes islamitas adoptaram Aristóteles e consideraram-no como sendo mais importante do que Platão ― e vem daqui o aristotelismo do árabe Averróis e da cultura islâmica em geral: Platão foi relegado para segundo plano porque era um filósofo ao gosto dos cristãos.

Contudo, o platonismo era incontornável, e Kindi (m. 873) foi o primeiro que escreveu filosofia em árabe e o único de nota e que era genuinamente árabe. Kindi traduziu parte das Enneades de Plotino a que chamou de “Teologia de Aristóteles”: ceder ao platonismo formal era uma blasfémia entre os maometanos, por oposição aos cristãos platónicos.

Os nestorianos Sírios cristãos, de quem os maometanos receberam as primeiras influências gregas, espalharam-se pela Pérsia antes da invasão muçulmana e foram os grandes responsáveis pela divulgação da cultura grega no mundo que se veio a tornar islâmico.

A civilização persa permaneceu resplandecente, como já era antes da invasão maometana. A partir da Pérsia, os maometanos tiveram contacto com as civilizações da Índia e da China.

Um persa (e não um árabe), Omar Kayam, reformou o calendário islâmico em 1079. Os “grandes poetas árabes” não foram, na sua esmagadora maioria, árabes; o poeta Firdusi (m. 941), autor do Shahnama era persa e reza a História que repudiou o islamismo mas foi obrigado a aceitá-lo sob pena de morte.

A pouca cultura do Império islâmico aconteceu nas extremidades do Império: na península ibérica e na Pérsia. A filosofia dita “islâmica” resume-se a duas personalidades: Avicena e Averróis.

Ibn Sina Avicena (980 ― 1037) era persa, nascido na província de Bokara. A cultura apologista do islamismo considera Avicena como tendo sido famoso em medicina, quando Avicena nada mais fez do que copiar as ideias de Galeno ― Avicena foi guia da medicina na Europa até ao século 17, quando ele de facto acrescentou muito pouco à teoria médica de Galeno.

A fórmula segundo a qual “o pensamento produz a generalidade nas formas”, mais tarde repetida por Averróis e por Alberto Magno, e que serviu de suporte ao “nominalismo” de George Berkeley, é de autoria do persa Avicena.

Ibn Rochd Averróis (1126 ― 98) nasceu em Córdova, filho e neto de cádis (ele próprio foi cádis de Sevilha e de Córdova) foi perseguido politicamente pelo califa almóada (umáiada) Yakub Al-Mansur, por ser considerado um relapso em relação aos ensinamentos de Maomé, acabando por se refugiar em Marrocos.

A filosofia árabe não é importante pela originalidade ― pessoas como Avicena e Averróis são essencialmente comentadores. Maimónides (n. Córdova, 1135) era judeu. As concepções dos filósofos mais científicos vêm de Aristóteles e dos neoplatónicos em lógica e metafísica, de Galeno na medicina, de fontes gregas e indiana em matemática e astrologia (de onde veio a chamada “numeração árabe”, que é de origem indiana, incluindo a noção de “zero”), e em filosofia mística ― que inclui o sufismo ― há uma mistura de velhas crenças persas.

A “arquitectura árabe” e as artes em geral foram “sacadas” aos persas ― nada têm de genuíno e original, e não revelaram capacidade de especulação independente em matéria teórica: a sua importância é a de simples transmissor de outras civilizações.

O Islão foi um Império; não foi uma civilização.

2 comentários:

  1. Há que ter algum cuidado com o revisionismo histórico. Os nestorianos não eram cristãos de modo algum, diziam-se cristãos mas no entanto eram hereges - foram combatidos por São Cirilo de Alexandria por defenderem o princípio de "Christotokos", ou seja, o princípio protestante de que a Virgem Maria não é Mãe de Deus, mas sim de Jesus pura e simplesmente enquanto ser humano.
    A Igreja Católica de rito oriental siríaca (ou seja, uma das igrejas não-romanas que compõem o universo católico e que estão em comunhão com o Papa) foi fundada precisamente por ex-nestorianos, que abandonaram a heresia do "Christotokos" e abraçaram o dogma do "Theotokos" (Nossa Senhora é Mãe de Deus). Do mesmo modo que também havia outro supostos cristãos - heréticos - como os monofisitas, entre muitas outras seitas que se diziam cristãs que beberam dos ensinamentos dos evangelhos apócrifos/gnósticos não aceites pela Santa Igreja.

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    1. DEUS é onipotente, onipresente e onisciente. Maria é mãe de Jesus, não de DEUS. Jesus não é DEUS! É filho de DEUS, como todos nós somos. ELE é um espírito iluminado que alcançou a perfeição. Nós ainda estamos em busca dessa perfeição relativa.

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